“Se o Cruzeiro ganhar hoje eu não assisto mais jogo decisivo. Vai ser difícil, mas se for uma superstição positiva pra gente, fazer o quê.” Essas foram minhas palavras uma hora antes do jogo e trinta minutos antes de uma aula a noite em plena quarta-feira de futebol.
Nunca deixei de
assistir um jogo decisivo do Cruzeiro desde que o futebol entrou em minha vida.
Fui um pouco triste para a aula e depositando minhas fichas no celular para me
atualizar. Nesses dias é que a saudade de casa, do meu pai e da família reunida
assistindo ao jogo, aperta. Mas, eu tenho sorte de ter vindo para Mariana e encontrado
a Carol, alguém tão apaixonada pelo Cruzeiro quanto eu e que faz essa saudade
diminuir um pouco.
“Assistimos” ao jogo
juntas dentro da sala de aula, contamos com o lance a lance e os comentários do
twitter e por eles deu para perceber que o Cruzeiro não estava no Mineirão para
deixar a classificação escapar. Willian, inspirado, quase abriu o placar em
dois momentos no primeiro tempo. Mayke “estreou” pelo Cruzeiro em 2015, sua
melhor partida do ano até então, Arrascaeta disparando e Damião com a mesma
garra de sempre desde que veio para o time. Aliás, todos com uma garra e raça
que em 2015, nós torcedores, ainda não tínhamos visto.
Sobre os olhos de um
mar apaixonado, o time fazia o que todos queriam. Depois de ter perdido no
Morumbi, uma semana antes por 1x0, jogando mal e contando apenas com o milagroso
Fábio, os jogadores sabiam o que queríamos. E corresponderam. Muito bem, aliás.
Pelo celular pudemos
“ver” o belo gol de Leandro Damião, depois de um lançamento de Willian para
Mayke que cruzou perfeitamente, para que fizesse o gol de empate, no placar
agregado. Ficamos com o grito entalado quando em letras garrafais a palavra “GOOOOOL
DO CRUZEIRO” apareceu. Continuamos tensas, pedindo um segundo gol para não ir
para os pênaltis e secando o São Paulo. O time estava empolgado, pelos
comentários e atualizações haviam só elogios e finalizações perigosas. O
segundo gol não saiu e o São Paulo também não fez. Consequência: pênaltis. Não
tenho coração para aguentá-los!
Depois de duas horas
explorando o celular, a bateria tinha que acabar, e as duas ficaram sem aquele que
até o momento tinha sido o melhor companheiro de jogo. O desespero só aumentou e
a agonia de não saber o que iria acontecer, também. Até, que uma colega de
classe atleticana comemorou contidamente o gol de Rogério Ceni na cobrança do
primeiro pênalti. Logo após comemorou também a defesa do goleiro na cobrança de
Leandro Damião. Ganso ainda ampliou. 2x0 para o São Paulo e o coração já estava
tentando se contentar com a perda mais uma vez de um jogo decisivo.
A colega se lamentou
e os vizinhos comemoraram. Marquinhos abria o placar para a Raposa e os
vizinhos sem saber, seriam os salvadores da pátria dali em diante. Nos avisaram
sobre o belo favor que Souza fez em isolar. Comemoraram quando Arrascaeta
deixou tudo igual e quando Fábio defendeu a cobrança de Luiz Fabiano. Henrique marcou
e o grito foi mais forte. Estávamos na frente, 3x2 para o Cruzeiro. Centurion
empatou, silêncio. Manoel, com a chance de decidir nos pés, parou em Ceni, a
atleticana da sala comemorou. Vieram então as cobranças alternadas e o coração
não estava aguentando mais.
O Cruzeiro tinha sido
muito guerreiro, Fábio impecável, seria injusta a desclassificação e parece que
até o São Paulo achava isso. Lucão perdeu. Fábio fazia sua segunda defesa. Gritaram
os vizinhos. Gabriel Xavier cobrou o gol da classificação, seu primeiro pelo
clube. Explosão dos vizinhos e Mineirão em êxtase. Enquanto nós escutávamos os
vizinhos berrarem, abríamos o maior sorriso do mundo. Mas o grito ficou
engasgado.
Que jogo improvável,
heroico e sofrido. Nunca tive uma experiência parecida, nunca assisti um jogo
dessa forma, sem tv, internet, dentro de uma sala de aula. Minhas palavras
fizeram efeito e agora acho que tenho uma superstição futebolística a seguir.
Irá ser muito difícil, mas enquanto for positiva para nós, os jogos decisivos
não contarão com o meu olhar, só com o meu coração azul.


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